Arquivo para dezembro, 2013

Mulher

me chamaram bruxa
quiseram me caçar
me chamaram objeto estético
quiseram me admirar
me chamaram donzela
quiseram me limitar
me chamaram demônio
quiseram me desprezar
apesar de poeta
me chamaram musa
como quem mostra
meu único lugar
me chamaram tudo
mas ri
não sou teoria
daqueles que acham
que de mim sabem
não sou verso
daqueles que recorrem
à adulação barata
acima de tudo
não caibo em caixas
favor não insistir

Mancha

fui dormir
com uma cor que flutuava
no pensamento
acordei
e ao longo do dia
derramei a cor na xícara do café que bebi
nos livros que abri
nos objetos que peguei
até que a cor ficou um pouco minha.
mas era minha?
a noite de sono a diluiu
e o dia a trabalhou:
não era mais a cor da maçã
que deixei na mesa de casa
não era mais a cor dos olhos do meu gato
que me olhou antes de sair
mas disso eu não podia mais saber
ao certo
porque já tinha perdido os rastros
e ela podia ser o que fosse
inclusive –
podia ser nada mais
que uma cor.

Metrô

A menina vai
A cidade que ruge
Se pendura em sua saia
A menina vai
Com pressa, mas não a mesma pressa
De quem sobe apressado a escada
Pra ver se pega o metrô que acabou de chegar

A menina vai
A cidade lhe vai pelos olhos
Ela vai com pressa
Mas não é pressa de atraso
É pressa de quem quer chegar a tempo
De pular pro outro lado do precipício
De mãos dadas com alguém

A menina vai
E a cidade se pendura
Em sua saia
Cor de uva
O metrô chega