Lua em Escorpião

eu desfaço o rito
no calor espontâneo
de um abraço inteiro
é da maior importância
que você saiba
o avesso da minha espera, o perfume
com a deliberação de um veneno

eu desfaço o rito
que por horas
submersas, quero
acredito
faz com que seja mim
essa outra que flutua
pela sombra de quem sabe
eu desfaço o rito e retomo o verso
suspendo o instante
e vou desenrolando
lentamente o novelo
que me conduz
ao extremo do labirinto

eu me perco e assisto
tudo como num filme
me pinto para uma batalha
me escondo atrás do movimento sinuoso
para no fim sua mão me achar no escuro
e levar o que eu tinha de fôlego
acaba sendo assim
como estar nua, dona
de cabelos e ombros que se sobressaem
mas dissolvendo em todo o resto
assim como estar nua
ou nunca nua
e sempre procurando as mãos no escuro

eu aguardo
sei guardar coisas como ninguém
como uma tesoura
pra cortar a corda e
te fazer segurar firme no seu
fôlego
sei como ninguém
cortejar abismos
e acho que algo da tua aura se transmite
e eu visto, como um tecido
sou puxada da gravidade lunar e piso o chão
com o apuro que empresto de você

acho dentro de mim meu próprio poder
quando algo da sombra que você tem nos olhos
descola e me leva dançando
pelas constelações abismos ruas vazias
e de tudo que é por sua natureza inconfessável
nascem as flores o riso as tempestades
a alma de tudo se mostra
de modo
irremediável

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