Arquivo para janeiro, 2012

Caminhante noturna

Insosso dia ensolarado
Posta-se a meus pés,
Mas desprezo-o:
O entardecer tem algo de delírio
Que me faz esquecer até meu nome.
Adoto, aliás, qualquer um que quiserem me dar:
Catarina, Ana, Isabel, lenço que
no vento vai-se, dançando, sem hesitar;

Por tudo passo, às pressas,
Em direção àquele não-descoberto,
inacessível lugar,
Que o tempo me mostra
Mas o espaço
Muito se diverte
Em negar ao meu leve passo.

Fugi então de casa e a noite inteira
a lua fez cara feia
Eu, porém, continuava a dançar, e beber
aquele impossível olhar, que me nega, novamente,
o não-descoberto, inacessível lugar.

Eu já chorava tangos,
soluçava jazzes,
mas tudo em vão.
Tive que lembrar meu nome,
colar a certidão de nascimento no peito,
e voltar pra casa,
rubra,
a roçagar –
Caminhante noturna, invisível,
Catarina,
Ana,
Isabel, lenço que
no vento vai-se, dançando, sem hesitar.

Mas jurei não mais voltar pra casa
– jamais
E é por isso que até hoje
Com o coração de vidro a pender do pescoço,
Eu saio apenas à noite,
Me bamboleando em um vestido
azul,
Atrás daquele lastimável, insensível
inexorável, não-descoberto,
inacessível lugar.
Só que não tem problema:
Sou caminhante noturna.
Catarina,
Ana,
Isabel,
lenço que no vento vai-se,
dançando,
sem hesitar.

Jéssica Costa