Arquivo para abril, 2013

Geografia

Sei que você não falha em perceber:
todas as terras se parecem.
Todo o relevo, montanhas, planícies,
depressões,
construções,
falam àquela mesma dor
àquele mesmo sopro
que desde sempre conhecemos.

Pelas veias azuis dos rios corremos olhares
que devoram
anseiam
sentido qualquer
que preceda a morte;
com essa delicadeza extraterrena
que tiramos sabe-se lá de onde
contornamos, com a ponta do dedo,
a veia, o rio –
todos deságuam no mesmo lugar:
O oceano, a mão
aberta ou fechada que beijamos.

Há os monumentos, construções cheias de si, os grandes prédios:
as claríssimas coisas que nos observam.
A essas nos entregamos, em desaviso,
em pura ousadia, talvez,
como quem se abandona nos braços de
uma esfinge.
E não nos arrependemos mesmo
quando somos devorados.

Já as pequenas florestas, mesmos os bosques e campos
tememos:
A elas você e eu vamos apenas de mãos dadas,
Olhando para os lados,
como se a qualquer momento um terrível castigo
sobre nós fosse abater-se.
Mas no fim, amor, não nego o quanto pertenço
a essas clareiras, penumbras e blecautes.
Nem que me escondo aqui quando
nada mais me interessa:
tudo parece gravitar para este centro.

Há a terra enfim,
de norte a sul,
à qual tanto nos ligamos
que depois de um tempo nossos cabelos
se misturam às raízes das árvores.
Então nos lembramos das visões que um dia tivemos:
E não queremos nada além desse abandono feliz.