Arquivo para março, 2012

Disritmia

Que sonho um difuso sonho de contornos
É verdade:
Conheço este coração úmido
e palpitante,
Centro que esvazia de energia
Os entornos
do corpo

E também este anseio que leva
À letra que faz sombra leve,
Quase fantasmagórica, sobre o papel;
E este sorrateiro, mudo
Viveiro de desejos
Este atrevimento ligeiro,
Certeiro
Que ninguém viu,
Ninguém sabe

Vejam, não posso
Jamais poderia
Dar voz sã a delírio:
Por isso rompo com tudo,
Por um segundo,
Por minha vida primeira.

 

Jéssica Costa

Antídotos

Uma palavra corta
Pelas bordas
Os excessos do pulso
Como um beijo corta
Pelas bordas
As mesuras fingidas

Jéssica Costa

Chave

Certeira que seja a melodia,
Falha no mergulho:
Vira peixe fora d’água
Se debatendo
Surdamente
No chão

O céu é um veludo, a derramada
luz lunar uma belíssima armadilha
de romantismos
e arroubos
Mas de alguma forma
Permaneço seca,
Lúcida demais,
Por sobre as ondas
Densas como tinta

O sono ainda é doce,
A liberdade cheira bem –
Mas me imponho o ofício ingrato
De conter todas as
mil tempestades
Numa caixa de sapato

Quase me perdi ontem –
Dessa vez para sempre;
Mas já sei bem
que não há o que se fazer
além de olhar
pra fora

 

Jéssica Costa